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Canta-me um hino!

terça-feira, agosto 29, 2006

A noiva do emigrante

Sentada na beira do sofá, tem os olhos fixos no vazio e os ouvidos a reinventarem conversas antigas.
Na almofada ficou o cheiro dele. Não de perfume ou de champô, o cheiro da pele, que lhe entra pelas narinas e lhe desperta os sentidos.
Vê fotografias e cada momento é ampliado até uma visão microscópica lhe desvendar o segredo de cada molécula de recordação.
Conta os dias que faltam para o fim-de-semana, para o café quente de manhã, para as mãos que se entrelaçam no sono.
Faz da saudade uma amiga, companheira e oferece-lhe uma lágrima gorda de nostalgia e vaidade. É vaidosa dele. De passear com ele na rua, de o saber seu. O seu homem.
Agradece a Deus a sua sorte, a sorte que juntou as linhas das suas vidas, que as coseu, que lhes deu tantos nós impossíveis de desatar.
No meio da angústia que a distância provoca, porque o seu emigrante anda longe de casa, há uma serenidade que a preenche. Ela sabe que ele há-de chegar. Que um dia vai entrar pela porta e dizer:
- Amor, cheguei!
E vai ficar para sempre.

Sentada na beira do sofá, tem os olhos fixos no futuro e os ouvidos a adivinharem conversas sem fim. Ela, a noiva do emigrante…

quinta-feira, agosto 17, 2006

Tatuei a alma

Li eu com um frio na barriga que doeu.
Penso nas agulhas finas a entrar na pele e deixar marcas que mesmo querendo não podemos apagar. Penso na tatuagem como uma cicatriz, deixada por ferro quente.
Penso, penso, penso…


Há hoje aquelas tatuagens no pacote de chipicao que ao fim do segundo banho já se encontram desbotadas e feias.
E penso, penso, penso…

Afundo-me no brilho dos teus olhos e percorro a pele com cuidado. Não encontro feridas nem marcas. Encontro apenas um sorriso de quem descobriu que, quando quisesse, poderia fazer uma tatuagem a sério, que não desbotasse com a água, que não se lavasse a sabão.
E a vontade ficou…

Tatuaste a minha vida. Ferro e fogo e muito mais.